O Katana é tido como a mais perfeita e poderosa arma de corte do mundo e, embora tenha sido desenvolvida há centenas de anos atrás, ainda é hoje considerada assim. Este tipo de espadas sofre diversas evoluções ao longo da história do Japão, pensando-se que tem como origem as espadas rectas chinesas. O Katana como conhecemos hoje é elaborada através de um processo manual bastante característico. É feita de duas ligas de aço: uma flexível no interior e uma rígida no exterior. O facto de existir uma liga mais maleável no interior faz com que a lâmina não se estilhace, vergando e o aço rígido no exterior confere a resistência necessária à parte da lâmina que corta e defende os golpes de outras armas.
A espada apresenta uma curvatura tão conhecida porque descende também do tachi (太刀), espada longa, utilizada pela cavalaria. O tachi era utilizado com o gume para baixo, quando embainhado; possibilitando um desembainhar rápido no sentido ascendente e era significativamente maior e mais curvo que a Katana.
Com o passar do tempo, os combates de infantaria tornaram-se mais comuns e o tachi diminui o seu tamanho para poder funcionar também como arma de perfuração, originando a Katana. Outra espada de infantaria foi também criada pelos japoneses, o No-Dachi (野太刀). Esta espada tinha função semelhante ao montante europeu, sendo uma espada de duas mãos, extremamente longa e pesada. Utilizava-se presa às costas do espadachim e era utilizada em tropas de infantaria que tinham como intenção travar cavalaria inimiga.
Contam-se muitos métodos para a manufactura das espadas e os artesãos dedicam-se ao aperfeiçoamento desta arte durante toda a sua vida. Os artesãos antigos purificavam o seu espaço de trabalho, a sua mente, corpo e espírito durante semanas antes de iniciar o trabalho de construir uma espada. O ferro de que é feita a espada não é um aço do estilo Ocidental, consistindo numa liga diferente, bastante difícil de fabricar, sendo fundido numa Tatara – recipiente em forma de casco e feito em argilas e barros – e não numa fundição ou forno.
A mistura após fundição dos materiais (areias ferrosas e carvão) resulta em diversos produtos. À parte mais pura e mais valiosa dos produtos resultantes da fundição, chama-se Tamahagane e 2,5t deste material necessita de 10t de ferro e de 12t de carvão. O Tamahagane é misturado com a porção menos pura do material resultante (mas não com a escória ou com as impurezas) a que se chama Hotyotetsu e resulta um material chamado Orosigane, sendo esta a liga de ferro que vai ser utilizada na construção das espadas. As imagens seguintes ilustram a composição de uma katana e os nomes das suas secções:
Toshin – corpo:

Por vezes existe um sulco ao longo da lâmina a que se chama “Hi”, que tem como objectivo retirar peso à espada sem lhe retirar qualquer outra propriedade, muito embora existam mitos que lhe atribuem propriedades mais estranhas, como “contrariar o vácuo” ou “escorrer o sangue em fio”.
Saya – bainha

O sageo é uma corda que aparece amarrada a todo o saya e tem como função servir de corda para técnicas de Hojo Jutsu. Cada escola de esgrima utiliza o sageo preso ao hakama de uma forma característica, outras há que não o prendem de todo.
Tsuka - pega

O interior do tsuka é feito com a áspera pele de tubarão ou de raia, como forma de impedir que o tsukamaki (geralmente algodão ou seda) escorregue e desfaça as formas com que foi elaborado. O menuki é uma peça de adorno, geralmente relacionada com o espadachim que utiliza e espada, recorrendo a simbolismos e a referências talismânicas.
A peça “mekugi”, introduzida dentro do “mekugiana” é um pequeno “cilindro” de bambu, com uma base cortada na diagonal ao seu eixo de rotação e é a única peça que segura o corpo da espada ao tsuka. Através destas descrições é mais simples distinguir um “kazarito” (espada ornamental) de Toledo ou de Taiwan de um verdadeiro katana ou mesmo de um Iaito (espada de treino que reproduz as propriedades de um verdadeiro katana sem risco de cortar porque é feita numa liga de molibdénio ou alumínio).
Se olharmos para uma espada em que o revestimento do tsuka é feito de plástico, em que o mekugi é metálico ou inexistente ou se, flagrantemente, a lâmina ostentar as palavras “stainless steel” estamos perante uma espada decorativa, uma espada que estará bem nas paredes de nossa casa sem ser desembainhada. Praticar qualquer arte da esgrima japonesa com uma arma ornamental representa um sério risco para quem a manuseia e para quem o rodeia.
O katana é um símbolo e um tesouro imperial do Japão e não é actualmente utilizado como arma de corte. Muitas escolas baniram ou proibiram a prática de Tameshigiri (prática de corte, cortando makiwara com a espada). Não deixa de ser uma arma na sua essência. A mais perfeita e a mais humana. O katana é a alma do guerreiro, não deve ser exposto sem razão.








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