A tribo Sakya, governada pelo rei Shuddhodana Gautama, vivia na encosta sul do Himalaia, ao longo do rio Rohini. Este Rei estabelecera sua capital em Kapila, onde construíra um grande castelo, do qual governara sabiamente, conquistando assim a simpatia de seus súditos. A Rainha chamava-se Maya, cujo pai era tio do Rei e que também era soberano de um distrito vizinho, do mesmo clã Sakya.
Durante vinte anos, o casal real não teve filhos. Uma noite, entretanto, a Rainha Maya ficou grávida quando viu, num sonho, um elefante branco entrar em seu ventre, através da axila direita. Com a notícia, o Rei e o povo esperaram com incontida ansiedade o nascimento do príncipe. Atendendo à tradição, a Rainha voltou à casa paterna, para dar à luz, ficando a meio caminho, no Jardim Lumbini para repousar, num alegre e bonito dia de primavera.
Sentindo uma imensa alegria, o Rei chamou seu filho de Siddhartha, que significa "Todos os desejos cumpridos". No palácio real, entretanto, a alegria seguiu-se uma profunda tristeza, pois, em breve tempo, morria repentinamente a amável Rainha Maya, sendo o príncipe criado com carinho e desvelo por Mahaprajapati, irmã mais nova da Rainha.
Um ermitão, Asita, que vivia nas montanhas próximas, vendo um brilho ao redor do castelo e julgando isso como um bom presságio, desceu até o palácio, onde lhe foi apresentada a criança. Predisse ele então: "Este Príncipe, se permanecer no palácio, após a juventude, tornar-se-á um grande rei e governará o mundo todo. Porém, se abandonar a vida palaciana e abraçar a vida religiosa, tornar-se-á um Buda, o Salvador do Mundo".
A princípio, o Rei estava contente com esta profecia, mas, aos poucos, começou a se preocupar com a possibilidade de seu único filho vir a deixar o palácio e tornar-se um monge errante. Aos sete anos de idade, o Príncipe começou os estudos em letras e artes militares, mas seus pensamentos dirigiam-se naturalmente para outras coisas. Num dia de primavera, o Príncipe e o Rei saíram do castelo e juntos observaram um agricultor ao arado. De repente, o Príncipe viu um pássaro descer ao solo e apanhar um pequeno verme revolvido pelo arado do lavrador. Entristecido, sentou-se à sombra de uma árvore e refletiu sobre o acontecido, murmurando a si mesmo: "Oh! Por que todos os seres vivos se matam uns aos outros?"
Ele, que havia perdido sua mãe logo depois do nascimento, encontrava-se profundamente tocado pela tragédia destes pequenos seres. Esta ferida espiritual aprofundava-se cada vez mais à medida que ele crescia. Como uma pequena escoriação em uma árvore jovem, o sofrimento da vida humana tornava-se profundamente mais patente em sua mente.
O Rei se preocupava muito, toda vez que se lembrava da profecia do eremita, e tentava por todos os meios divertir o príncipe e dirigir seus pensamentos para outras direções. Quando o Príncipe completou dezenove anos, o Rei arranjou-lhe casamento com a Princesa Yashodhara, a filha de Suprabuddha, o senhor do Castelo Devadaha e irmão da extinta Rainha Maya.
Durante dez anos, em diferentes Pavilhões da Primavera, do Outono e da Estação Chuvosa, o Príncipe viveu mergulhado nas rodas de música, dança e prazeres, mas sempre seus pensamentos volviam para o problema do sofrimento, quando tentava, melancolicamente, compreender o verdadeiro significado da vida humana.
"As glórias do palácio, este corpo saudável, esta alegre juventude! Que significam para mim? - pensava ele". Um dia, poderemos estar doentes, ficaremos velhos, da morte não há escapatória. Orgulho da juventude, orgulho da saúde, orgulho da existência; - todas as pessoas sensatas deveriam deixá-los de lado".
"Um homem, lutando pela existência, procurará naturalmente auxílio. Há duas maneiras de se buscar auxílio: a correta e a errada. Procurá-lo de forma errada significa que, enquanto se reconhece que a doença, a velhice e a morte são inevitáveis, busca-se ajuda entre a mesma classe de coisas vazias e transitórias."
"Procurar ajuda de maneira correta, reconhecendo a verdadeira natureza da doença, velhice e da morte, é buscá-lo naquilo que transcende todos os sofrimentos humanos. Neste palácio vivendo uma vida de prazeres, pareço estar procurando auxílio de maneira errada." Assim, o conflito metal continuou a atormentar o espírito do Príncipe, até a idade de vinte e nove anos, quando nasceu seu único filho Rahula. Este acontecimento levou o Príncipe a abandonar o palácio e buscar solução para a inquietude mental, na vida errante de um monge mendicante. Tomada a decisão, abandonou o castelo em companhia de seu único criado, Chandaka, e montado com seu cavalo branco, Kanthaka.
Suas preocupações mentais não se findaram e muitos demônios o tentaram, dizendo: "Ser-lhe-ia melhor voltar ao castelo e procurar outra solução; aí então todo o mundo será seu". Soube ele, entretanto, silenciar os demônios, com a convicção de que nada mundano poderia jamais satisfazê-lo. Assim, rapou a cabeça e dirigiu-se para o sul, com uma tigela de monge mendicante na mão.
Primeiramente, o Príncipe visitou o eremita Bhagava e observou suas práticas ascéticas; depois esteve com Arada Kalama e Udraka Ramaputra, para aprender seus métodos de meditação, mas depois de praticá-los convenceu-se de que eles não poderiam conduzi-lo à Iluminação. Finalmente, foi ao país de Magadha e praticou ascetismo na floresta de Uruvela, nos bancos do rio Nairanjana, que corre perto do Castelo Gaya.
Seus métodos de ascetismo foram incrivelmente intensos. Estimulava-se a si mesmo com pensamento de que "Nenhum asceta do passado, do presente ou do futuro jamais praticou ou praticará exercícios tão severos quanto eu". Não conseguindo, porém, atingir seus objetivos, mesmo com estas severas práticas de ascetismo, o Príncipe as abandonou, após ter passado seis anos na floresta. Banhou-se no rio Nairanjana e aceitou uma xícara de leite que lhe fora oferecida por uma mulher, Sujata, que vivia numa aldeia próxima.
Os cinco companheiros que, durante seis anos, acompanharam o Príncipe em suas práticas ascéticas, viram-no, com consternação, aceitar leite das mãos de uma mulher; por este motivo, julgando que ele se havia degenerado, abandonaram-no à própria sorte. Assim, o Príncipe ficou sozinho. Encontrava-se ainda combalido, mas, com o risco da própria vida, encetou um novo período de meditação, com a determinação seguinte: "Mesmo que o sangue se esgote, mesmo que a carne se decomponha, mesmo que os ossos caiam em pedaços, não arredarei os pés daqui, até que encontre o caminho da Iluminação."
Foi deveras uma luta intensa e incomparável! Sua mente, desesperada, abrigava pensamentos confusos, a escuridão persistia em toldá-la, e ele suportou o assédio dos demônios. Mas, cuidadosa e pacientemente, conseguiu sobrepujá-los. Tão árdua foi a luta que seu sangue se diluiu, sua carne caiu em pedaços e seus ossos se partiram. Quando a estrela d'alva despontou no oriente, a luta havia terminado e a mente do Príncipe desanuviou-se e ficou tão clara quanto a aurora. Ele havia, finalmente, encontrado o caminho da Iluminação, tornando-se, em oito de dezembro, aos trinta e cinco anos de idade, um Buda.
A partir deste momento, o Príncipe passou a ser conhecido por diferentes nomes: uns o chamavam de Buda, o Perfeitamente Iluminado; outros, de Sakyamuni, o Sábio do Clã Sakya; outros ainda chamavam-no de o Sábio do Mundo. Primeiramente, ele foi a Mrigadava, em Varanasi, onde viviam os cinco monges mendicantes, que, durante seis anos, o acompanharam em sua vida ascética. A princípio, eles o evitaram, mas após terem conversado com ele, passaram a acreditar nele e se tornaram seus primeiros seguidores. A seguir, foi ao Castelo Rajagriha, onde ganhou a simpatia do Rei Bimbisara, e se tornaram amigos para sempre. Daí, percorreu o país, pregando seus ensinamentos.
Assim como os sedentos buscam a água para mitigar a sede e os famintos buscam o alimento, os homens a ele acorriam. Deste modo, dois grandes mestres, Sariputra e Maudgalyayana e seus dois mil discípulos vieram ter a ele. A princípio, o pai de Buda o Rei Suddhodana que ainda, intimamente, sofria com a decisão tomada por seu filho em deixar o palácio, não lhe deu ouvidos, mas depois tornou-se seu mais fiel discípulo; a mãe de criação de Buda, Mahaprajapati, sua esposa, a Princesa Yashodhara, e assim todos os membros do clã Sakya Nele acreditaram e o seguiram. E muitos outros tornaram-se seus devotados e fiéis seguidores.
Durante quarenta e cinco anos, Buda percorreu o país, pregando seus ensinamentos. Aos oitenta anos de idade, em Vaisali, em seu caminho para Shravasti, vindo de Rajagriha, ficou muito doente e predisse que dentro de três meses ele estaria adentrando o Nirvana. Mesmo assim, continuou sua viagem até Pava, onde aceitando comida oferecida por um ferreiro, Cunda, teve sua doença agravada criticamente. Não obstante os grandes sofrimentos e fraqueza, ele prosseguiu a viagem, até chegar à floresta de Kusinagara.
Ali, postado entre duas grandes árvores sala (Vatica Robusta), continuou a ministrar dedicadamente seus ensinamentos aos discípulos, até o seu último momento. Assim, com a consciência tranqüila pelo dever cumprido, o maior de todos os mestres e o mais amável dos homens adentrava o almejado Nirvana. Seu corpo foi cremado, em Kusinagara, por seus amigos, sob a orientação de Ananda, o discípulo favorito de Buda.
Sete governantes vizinhos e o Rei Ajatasatru, de Magadha, pediram que as cinzas fossem divididas entre eles. Como o Rei de Kusinagara, a princípio, não concordasse com isso, a disputa quase termina em guerra, mas com a intervenção de um homem sábio, de nome Drona, a crise foi superada e as cinzas foram repartidas entre oito grandes países. As cinzas da pira funerária e os vasos contendo os restos mortais de Buda foram dados a dois outros governantes, para serem honrados e conservados como relíquia em monumentos especialmente construídos para esse fim.
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