segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O KARATÊ PRECISA IR À LUTA...


O texto a seguir é de autoria de *Altamiro Cruz, e corre pelos e-mail´s de quase todos os karatecas do Brasil. É um texto que demonstra uma reação as atuais condições do Karatê desportivo no Brasil. Também, é um texto oportunamente lançado nas proximidades da data de eleição da CBK. Leiam e tirem suas conclusões.

O esporte brasileiro passou por grandes transformações nos últimos anos. Desde o início desta década, várias leis aprovadas beneficiaram os comitês olímpico e para-olímpico, as confederações, os atletas, os clubes esportivos, etc... As mais importantes, sem dúvida, foram a Lei nº 10.264/2001 (lei das loterias), a Lei 10.891/2004 (Bolsa Atleta) e a Lei 11.438/2006 (incentivo ao esporte por meio da isenção fiscal). Estima-se que nos últimos quatro anos (2005/2008), R$ 654,7 milhões tenham sido aplicados no desporto de rendimento em função da nova legislação, dos patrocínios das empresas estatais e dos dispêndios diretos do Ministério do Esporte no Programa “Brasil no Esporte de Alto Rendimento - Brasil Campeão”.

Apesar das facilidades criadas para obtenção de recursos públicos, a Confederação Brasileira de Karatê (CBK) não recebe do governo federal qualquer centavo desde 2002. A última vez em que a CBK recebeu recursos da União foi em 29 de julho de 2002 (R$ 57,5 mil) para viabilizar a participação das equipes brasileiras no XVI Campeonato Pan-Americano Adulto (masculino e feminino).

Paralelamente, ao longo desses últimos seis anos, diversas confederações receberam valores expressivos do governo federal provenientes do programa “Brasil no Esporte de Alto Rendimento”, conforme demonstrado no quadro a seguir:



Entre as confederações acima relacionadas sequer estão mencionadas as modalidades esportivas de grande visibilidade e os seus respectivos patrocinadores como o vôlei (Banco do Brasil), a natação (Correios), o basquete (Eletrobrás), o judô (Infraero), o handebol (Petrobrás), a ginástica olímpica e o atletismo (Caixa Econômica Federal), as quais receberam aportes de R$ 247,9 milhões apenas das empresas estatais, sem contar que também receberam recursos da lei das loterias por meio do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

Com o respeito que merecem todas as modalidades esportivas, não é plausível que a CBK ocupe uma posição de inferioridade, ao menos no que diz respeito aos recursos públicos recebidos, em relação a confederações como hóquei no gelo, bocha e bolão, sumô e kung fu, apenas para citar algumas entre as beneficiadas, as quais, diga-se de passagem, tiveram iniciativa e competência para pleitear e receber recursos federais.

Até mesmo o tradicional discurso que diz ser a CBK “a entidade oficial de administração do karatê” fica prejudicado quando se observa que a Confederação Brasileira de Karatê Interestilos - CBKI, por exemplo, recebeu R$ 90 mil do Ministério do Esporte. Dentro da mesma ótica, apenas 94 atletas da CBK receberam a bolsa atleta em 2008, enquanto 109 atletas das demais confederações de karatê existentes foram contemplados.

Além dos recursos decorrentes do programa “Brasil Campeão”, algumas confederações têm aprovado projetos junto ao governo federal para captação de recursos privados nos termos da lei de incentivo ao esporte (Lei 11.438/2006). A Confederação Brasileira de Boxe e a Confederação Brasileira de Judô, por exemplo, aprovaram recentemente projetos de captação de R$ 4,9 milhões e R$ 1,9 milhão, respectivamente.

Esses dados demonstram, de forma inequívoca, que existem programas e recursos federais para beneficiar as entidades esportivas das diversas modalidades. No caso da CBK, entretanto, a inércia administrativa impediu-a até mesmo de reivindicar recursos que seriam extremamente necessários para a manutenção e o desenvolvimento do karatê brasileiro. Quantos eventos poderiam ter sido realizados? Quantos atletas poderiam ter sido beneficiados? Quantos cursos de capacitação ou viagens de intercâmbio poderiam ter sido implementados?

Diante da omissão da CBK, o que observamos atualmente é o karatê carente não apenas de recursos, mas também de expectativas e de esperança. Não podemos concordar com atletas dormindo em aeroportos e ginásios ou com a presença de pouco mais de 100 participantes no último campeonato brasileiro, ao qual sequer compareceram as federações das regiões Norte e Nordeste. A CBK já não representa apenas “o caminho das mãos vazias”. Vazios também são os cofres, vazias são as idéias...


O cargo de presidente da CBK exige capacidade de agir, de produzir efeitos. Por quase 20 anos temos esperado – em vão – que algo de novo aconteça. Não precisamos de mais do mesmo... Precisamos mudar o presente para interferir no futuro, de forma a escrever um novo capítulo na história do nosso esporte. O karatê precisa ir à luta...


*Altamiro Cruz é jornalista, analista legislativo do Senado Federal,

membro da Comissão Nacional de Atletas do Ministério do Esporte

e possui 23 medalhas de ouro em campeonatos brasileiros e 17

medalhas de ouro em campeonatos pan-americanos

(equipe, pesado e absoluto).

0 comentários:

Postar um comentário

Deixe aqui seu recado