terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Cura através do Karatê

Karatecas do Dojô Aciaria: prática baseada em filosofia de autocontrole resulta em benefícios pessoais para jovens e adultos.
Aos dez anos, a pequena Cleide Andrade passou por um susto quando os médicos a diagnosticaram com um quadro de amnésia, além de passar a ter um comportamento agressivo e inconstante. Preocupados, seus pais procuraram profissionais que, além de lhe receitarem medicamentos, recomendaram a prática de um exercício físico que estimulasse o uso da mente e a fizesse gastar as energias acumuladas. Incentivada pelos pais, Cleide optou pelo karatê. E apenas seis meses após começar a praticar a modalidade já se via livre dos dois tipos de remédio que ingeria diariamente. Pouco a pouco os sintomas foram desaparecendo. Aos 17, já não apresentava mais nenhuma característica da doença.



“O karatê foi a cura da minha vida”, define Cleide, formada em Pedagogia e estudante de Psicologia, hoje com 28 anos e completamente curada da doença. “Praticar o karatê me ajudou a controlar a agressividade e compulsões, mostrando-me a importância de uma postura disciplinada perante a vida”, explica a karateca faixa laranja, que esteve afastada durante alguns anos do esporte para se dedicar aos estudos.



“Mais tarde, desenvolvi um quadro de anemia e fui novamente aconselhada a praticar exercícios. Cheguei a experimentar outras artes marciais, mas acabei de novo atraída pelo karatê”. Para ela, a sociedade deve dar mais valor às artes marciais, que devem ser vistas além da superficialidade das lutas. “Ser um esporte de contato não significa que o karatê estimule ou incentive a violência. Ao contrário. O esporte prega a importância de se defender em situações de risco, mas nunca agredir, além de estabelecer bases filosóficas importantes para o desenvolvimento pessoal do indivíduo”. Cleide também imputa sua boa saúde e forma física aos exercícios no dojô.



“A prática exercita os músculos do corpo de maneira equilibrada”. Aluna no dojô da Aciaria, após ter passado por algumas outras academias, ela vê na figura do “sensei” Itacir um ótimo mestre. “O sensei incentiva muito seus alunos, desenvolvendo um treinamento direcionado para competições. Tanto que pretendo em breve participar de competições na modalidade katá (simulação de movimentos do karatê)”, adianta Cleide.



Itacir Antônio Borges tornou-se sensei há vinte anos e ministra aulas há 10 no dojô da Aciaria. “Comecei a praticar o karatê em 1976, ainda era empregado na Usiminas. Procurava um esporte além do futebol e me interessei muito pelo karatê”, conta o sensei, que já treinou muitos atletas bem-sucedidos e convocados para a seleção mineira. Itacir tem o karatê como “religião” pois, como mestre, procura seguir à risca todos os ensinamentos filosóficos da arte marcial. “São cinco os ensinamentos básicos do karatê. Esforçar-se ao máximo para a formação do caráter; seguir o caminho da sinceridade; cultivar o espírito de empenho; dar importância à cortesia e reprimir atos brutais”, explica Itacir, dizendo que essa arte traz benefícios para pessoas de todas as idades.



“Para o adulto, traz o equilíbrio emocional e a saúde. Para a criança, ajuda na formação de um indivíduo repleto de virtudes”, ensina. Ele lembra ainda que, através do seu trabalho com o esporte, auxilia na recuperação de mais de cem jovens através do projeto social “Bom de esporte, bom na escola”. E garante também que o karatê tem muito a crescer como modalidade, tanto no âmbito regional quanto mundial.



“Já tivemos um nível excelente de atletas no Vale do Aço, com oito academias filiadas à Federação Mineira de Karatê (FMK). Contudo, vejo que a popularidade do esporte está voltando a crescer, principalmente após a inclusão nos jogos Pan-Americanos”, esclarecendo que aguarda com grande expectativa a inclusão da modalidade nos Jogos Olímpicos.



Fillipe Laignier, 11 anos, é um dos destaques do Dojô Aciaria, conquistando bons resultados na última competição realizada em Timóteo. Praticante do karatê há dois anos, relata um pouco da tensão pré-competição, algo que acaba sendo superado na hora de mostrar serviço. “Com concentração, a barulheira e a insegurança no momento da competição acabam sendo superadas”. Concentração essa que se expande a outros universos além do karatê. “Minha concentração na escola melhorou muito, assim como a força de vontade e a autoconfiança que procuro colocar em tudo o que faço”, conta Fillipe, que define seu esporte como uma “arma branca” em prol do equilíbrio e autocontrole.

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