terça-feira, 22 de abril de 2008

O Kimono Negro do Karate




Por: Roberto Pimentel

Houve um tempo em que o pré-conceito a diferentes estilos foi a tônica no Karate. Foi nos tempos do Professor Tanaka que embarreirava qualquer outro estilo, que não fosse Shotokan, a entrar na Federação. O Shorin-ryu não conseguia se federar, o Uech-ryu também não. O Camilo da Goju-kai que também era shodan de shotokan e conseguiu filiar a Goju-kai, a reboque veio a Seigokan. Estes últimos desistiram de competir tamanha a roubalheira contra eles.

Acontece que os estilos de Karate se confundiram com a paixão do tipo que se tem times de futebol. Por pura emoção, sem a menor atenção para qualquer lógica ou evidência de fatos. O que aliás, é burrice, pois na troca de experiências e de pontos de vista todos saem ganhando. O próprio Shotokan que se pratica hoje se divide em tradicional, atual, sei lá mais o que. E todos tem certeza que fazem um Shotokan melhor que os outros. Como se fossem coisas muito diferentes.

O Karate não morreu não. Acho que chegou ao fundo do poço (ou próximo a isso) e procura sua saída de lá. Creio que uma das coisas que podem ajudar nesse processo é deixarmos de seccionarismos e respeitarmos e aprendermos com as diferenças. Diferente não é certo nem errado. Não é melhor nem pior. É só diferente.

O primeiro passo para entendermos e respeitarmos as diferenças é abandonar a maldita "herança cultural" que aprendemos com os professores japoneses de sempre falar mal ou ter uma crítica na ponta da língua para qualquer coisa.

Se um artista de teatro for assistir a premier de uma peça qualquer que seja uma bosta, se questionado por um jornalista na saída sobre o que achou, dirá:-"Achei a iluminação fantástica." Isso porque a iluminação da peça foi a unica coisa razoável que ele viu. Mas não importa, ele elogia.

Nossos professores japoneses só diziam:
"Aquele cara é um merda."
"A academia tal é um cocô."
"O Karate tipo tal é fraco."
"O Fulano tem boa técnica mas é um escroto."Etc, etc.

E, infelizmente, esse hábito de opinar com desmerecimento e rebaixar os outros foi uma das coisas que a nossa geração de karatecas aprendeu e passou adiante. Hoje me policio profundamente ao ter de emitir qualquer opinião sobre outro karateca, outro dojo, outro estilo, outro sistema ou outro "o que quer que seja". Sempre procuro algo de positivo para dizer sobre, nem que seja a iluminação do dojo.

Acho muito ingênua essa posição de meramente criticar, como se eu denegrir a imagem de alguém me colocasse como superior a ele. E insisto que a maior responsabilidade do Karate é formar os pequenos, orientar o jovens e ajudar aos adultos a terem uma boa qualidade de vida percorrendo o caminho que escolheram.

Dar porrada é fácil, agente fecha a mão e senta o braço irresponsavelmente. Depois sai alardeando que é brabo, que é o tal. Mas superar a si próprio é que são elas. Por isso que hoje em dia temos tantos faixas-preta de garagem. Vestem seus quimonos mofados e treinam um pouquinho uma vez por mês dentro da própria garagem e ficam se iludindo pensando que ainda são aquilo que imaginam que foram um dia.

Mas continuam reféns de uma barreira tola que deixaram e ajudaram a criar em torno de si próprios. Para esses o Karate realmente morreu. Pode ressucitar, mas vão ter que se seforçar em amaciar seus egos e questionar seus pontos de vista tão imutáveis. Vão ter que vivenciar humildade e não só falar dela como qualidade louvável. Aí, vão ter que se superar. Combater seu tekki perfeito, seu tekki igual, eu tekki ele próprio.

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