sexta-feira, 10 de abril de 2009

Saga da família Vieira no Karatê

Paulo Vieira patriarca da família karateca


Enquanto se preparou para uma importante competição mundial de karatê em 2008, um karateca pensava na grande chance que teria de ganhar uma medalha de ouro para o Brasil, afinal de contas ele já ganhara duas medalhas de ouro representando os Estados Unidos, e por isso perde de vista o que acha que mais vale nessa trajetória. “Eu quero mostrar a tradição do trabalho do que está sendo feito lá no Pará e que é muito bom mesmo”, disse  Arlindo Vieira. “A nossa técnica tem nível mundial e é apreciada por muitos aqui nos Estados Unidos”.


Vieira, de 38 anos, que vem de uma família inteira dedicada às artes marciais e à qual se refere hoje em dia como Vieiramazon, teve mais certeza de  que sua técnica era especial  depois que recebeu, em 2002,  um telefonema da ex-aluna Cristina Remor, que tinha se mudado para Miami. “Eles viram a técnica dela e queriam saber onde ela aprendeu”, conta Vieira. “Ela falou que tinha sido em Marabá (Pará) no Brasil e muitos ficaram interessados.”


Convidado a visitar a Florida, Vieira fez disso a sua prioridade e  disputou um campeonato, ganhando duas medalhas para o Brasil. Dois anos depois, voltou e chegou a tempo de um  campeonato, no qual pensou em participar representando os Estados Unidos, o que não poderia acontecer nos termos normais. Mas Remor, a fiel aluna, conseguiu para o professor um jeitinho brasileiro sem atrapalhar as regras do jogo.


“Cristina questionou o técnico da seleção dizendo que, se me conseguissem uma vaga, eu poderia talvez conseguir uma medalha pra eles.” conta Vieira. “Eu já tinha uma medalha da copa internacional que era muito maior, com competidores de boa parte do mundo. Eles resolveram criar uma eliminatória e eu poderia participar, sem ter categoria, aberta pra qualquer peso. Lutei com lutadores muito maiores do que eu e ganhei. Ganhei uma vaga na seleção e viajei com eles como atleta, com uma moral mais elevada, pra disputar o campeonato nacional. Ganhei então a medalha de ouro para o estado da Florida como campeão norte-americano”.


Orgulhoso do feito, Vieira queria com urgência aprender inglês, pra ver se ficava nos Estados Unidos e conta que um dia entrou de loja em loja em Fort Myers e dizia apenas : “I need English School.” Eventualmente encontrou uma mulher americana que prometeu conectá-lo com uma amiga que falava português.


“Ela me ligou e disse que viria se encontrar comigo às sete da manhã e meus amigos criticaram, mas eu nunca vi tanta pontualidade,” conta Vieira. Essa pessoa é Aixa Cruz, porto-riquenha, que junto com o marido, Edgar Cruz, que trabalhava como “oficial da corte,” tornou-se a fada- madrinha de Vieira.


“Essa família praticamente me adotou,” ele conta. “Eles me hospedaram e trabalharam dia e noite traduzindo os jornais com notícias a meu respeito pra poder conseguir em tempo hábil a minha entrada com os documentos, porque o meu visto I-94 já estava próximo de vencer.


“Eles olharam todos os meus diplomas originais e medalhas e viram que eu era um cara que tinha possibilidade de entrar com um processo para o green card chamado “talentos especiais,.” dado só para artistas e atletas de nível alto”.

 

Vieira vê nessa seqüência de amabilidades a sua obrigação de voltar às origens e demonstrar apreciação por todos que ofereceram  apoio ao longo do caminho. “A gente aprendeu valiosos ensinamentos com os japoneses,” conta o faixa preta que cita por nome cada um dos professores que o ajudaram, como os mestres Yochisio Machida e Pedro Yamaguchi.


Eles nos ensinaram excelente técnicas de karatê e entendemos que a educação é feita de uma forma em que você aprende a ter essa gratidão com as pessoas que te ensinaram. “É isso que torna especial o trabalho que está sendo feito”.


Vieira faz questão de citar o pai, um homem simples que cresceu na Ilha de Marajó, no Pará, e  aprendeu cedo a correr atrás de búfalos selvagens para domesticá-los.  Esse treinamento físico forçado, diz, com certeza influenciou suas habilidades na “luta marajoara,” um tipo de arte marcial praticado na ilha.


“Ele começou em 1954,” diz Vieira. “Essa luta usa uma técnica conhecida como ‘cabeçada’ e que é parecida com a ‘baianada’ do  Brazilian Jiu-jitsu. Nessa técnica vence quem consegue primeiro encostar as costas do adversário no chão, similar ao ‘wrestling’ americano.”


A decisão de se mudar para Belém deu ao patriarca Paulo Vieira e seus sete filhos a chance de descobrir o karatê, “trazido pelos japoneses que chegaram pelo navio Argentina Maru e aportou no Porto de Icoraci,” conta Vieira.

 

Foi com esses mestres, que de dia trabalhavam na lavoura, que seu irmão mais velho, Paulo Vieira adquiriu as habilidades que o fizeram o mestre conhecido que ainda é. Vieira começou ainda pequeno observando o irmão e demonstrando para outros o que ele pedia. Ambos tiveram trajetórias importantes no Karatê e por causa do mestre Paulo o numero de familiares com a faixa  preta  aumentou muito em 1987. Vieira pretende estender a tradição.


“Meu objetivo é poder abrir uma escola e passar a tradição para outros,” diz. “Nós temos uma excelente técnica, um talento especial nas artes marciais e faz parte da disciplina a gratidão.”  Contando que gosta de ler, Vieira conta que aprendeu que “fazem parte do karatê cinco pontos éticos:  ‘formação de caráter, fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão, criar o intuito de esforço, respeito acima de tudo e conter o espírito de agressão.

 

“O objetivo do karatê não está nas vitórias ou nas derrotas em competições, mas sim no aperfeiçoamento do carater de nossos praticantes.” Mas as competições continuam motivando e por isso Vieira treina como pode para as competições mundiais que pretende representar o Brasil. Ainda não tem patrocinador, mas ficará satisfeito se tiver na comunidade brasileira alguma oferta.


Os Vieira lançaram a primeira cruzada contra as academias clandestinas e picaretas de karatê


A Federação de Karatê do Estado do Pará enviou em 1989 uma equipe de professores de Belém para intervir em academias clandestinas de Marabá. O Professor Arlindo havia acabado de conquistar a faixa-preta e integrou a comitiva de karatê-kas. Na cidade, ele foi convidado a estabelecer residência e trabalhar em academias e ministrar cursos para agentes estaduais, seguranças de empresas particulares e soldados do Exército brasileiro.


O trabalho do Professor Arlindo trouxe o reconhecimento do povo marabaense que lhe rendeu inúmeros títulos em competições estaduais, regionais, nacionais e internacionais e muitas homenagens, entre elas o de "Cidadão Marabaense".


O mestre se orgulha de que a grande maioria dos seus alunos alcançou a faixa-preta e se tornaram mestres em vários estados do Brasil e no exterior. Professor Arlindo conta que essa conquista foi possível depois que em 1997 inaugurou um DOJO (sala de treinamento) e com o apoio do Grupo Vieira ampliou o seu trabalho para toda região sul e sudeste do Pará, abrindo as portas para outros professores de Marabá e de Belém para difundirem as artes marciais.


Como todo bom esportista de artes marciais, o professor Arlindo não se esquece dos mestres. "Admiro e respeito muito um dos grandes nomes do Karatê, o Professor Carlos Benedito, o Carlão, faixa preta 5 DAN no estilo SHOTO-KAN".


E nem a trajetória de campeão nos Estados Unidos tira a vontade do Professor Arlindo retornar ao Brasil. "Quero voltar para continuar a tradição da minha família através dos meus filhos."

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Oss. Meu nome é Júnior. fui aluno da antiga ASVEKA. Com muito orgulho ainda pratico o karatê que aprendi dos mestres Paulo Vieira e Arlindo Vieira. Lembro também de outros que me ajudaram a dominar essa técnica tão grandiosa, como o sensei Silvio, Heleno entre outros. Fiquei muito triste ao saber, através da internet, do falecimento do nosso grande Sensei Paulo Vieira. Tenho a certeza de que seus ensinamentos serão repassados fielmente a todos quantos quiserem praticar o verdadeiro karatê-Do. Quanto ao Sensei Arlindo Vieira, tenho boas recordações, mas não tantas, visto que ele se mudara para a cidade de Marabá-Pá e, desde então, perdemos contato. Mas esteja onde estiver, Sensei Arlindo, saiba que o estimo muito e que um dia, querendo Deus, nos encontraremos novamente para relembrarmos os anos de ouro do karatê paraense. Caso queira contactar-me, meu end é otacilioasjr@yahoo.com.br. Muito obrigado pelas vitórias e muito sucesso!!!. Oss.

Benny disse...

Ola,meu nome e Benedito Oliveira(Benny)Atualmente moro em Worcester,MA,USA.Sou um privilegiado,pois,sou um dos alunos do Sensei Arlindo Vieira,q esta realizando um exelente trabalho aqui nos Estados Unidos.
Tenho uma filha de apenas 5 anos que tambem e aluna dele,e e' com muita seriedade,garra e determinacao que atravez do karate Sensei Arlindo Vieira esta formando seguidores da sua arte.Tamanha e a importancia de seus ensinamentos que nao se limita tao somente ao Karate,mas se expande fortalecendo o carater e o respeito de adultos formados e tambem a' formacao do carater,respeito e disciplina de criancas e jovens de hoje,que serao amanha,homens e mulheres de bem e levarao na bagagem esta riqueza.Que Deus o abencoe muito.Obrigado Sensei Arlindo Vieira,por fazer parte de nossas vidas...OSS.

Anônimo disse...

Ola,meu nome e Benedito oliveira,(benny)sou um privilegiado,pois ,sou aluno do sensei Arlindo Vieira,q esta conquistando seguidores de sua arte e realizando um exelente trabalho aqui em Massachusetts nos Estados Unidos.minha filha de 5 anos tambem e aluna dele e nao tenho duvidas q ela esta em boas maos.
Tamanha e a importancia de seus encinamentos q nao se limita simplesmente ao karate,mas se expande reforcando o carater,a conduta e o respeito de adultos formados e na formacao de carater,disciplina e desenvolvimento de criancas e jovens de hoje q serao amanha,homens e mulheres de bem e levarao na bagagem esta riqueza,q Deus o proteja e o abencoe muito,muito obrigado sensei Arlindo Vieira por fazer parte de nossas vidas...

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