quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sociedade atual e violência


Em um forun de discussão, alguém colocou que espera que o caminho das artes marciais seja o esporte. A afirmação estava relacionada ao desenvolvimento de nossa sociedade, onde a violência não teria mais lugar. Pensei sobre esta afirmativa, e quando estava quase convencido disto, eis que ouço gritos de desespero, de baixo da minha janela no bairro do Leme, no Rio de Janeiro. Foi uma briga onde estavam envolvidos quase 20 pessoas, entre mulheres e homens. Não entendi o motivo nem o desenrolar, mas percebi quando um indivíduo se pôs a correr enquanto perseguido por três agressores. Nosso mundo ainda está envolto em violência.

Morihei Ueshiba, fundador do Aikido, é creditado como o autor de aforismos que acabaria por ser compilados em “A Arte da Paz”. A mensagem de Ueshiba era a da não-violência, e da compaixão. Parece uma atitude irônica vinda de um Sensei de Arte Marcial. Ainda mais que Ueshiba teve como mestre um impiedoso carniceiro, que iria fatiar qualquer pessoa que cruzasse seu caminho.


Felizmente, ele teve a sensatez de não imitar o seu mestre e cultivado de forma diferente sua arte marcial. Será que podemos realmente conceber e transcender a violência, enquanto a nossa cultura está tão imersa nela? No quotidiano somos bombardeados com notícias da agitação civil, terrorismo e outras pessoas comuns tendo suas crises de fúria. Nathan Teodoro descreveu um caso onde um jovem casal foi responsável pelo massacre de uma família.


O que há de tão inquietante é que estes tipos de eventos desagradáveis tornaram-se normal em nossos noticiários. Nathan sintetizou: o que é realmente triste é como nós, como sociedade, nos tornamos incessíveis para estas coisas. Violência, derramamento de sangue e caos existem não só nas guerras declaradas, mas perversamente em nossas vidas cotidianas e até no nosso divertimento: jogos de vídeo games, música rap, rock e funk que abraçam a violência, tortura em filmes que retratam cenas, só para citar alguns.


Podemos, tal como Ueshiba, enxergar a loucura de tudo isso, ou será que todas estas imagens nos influenciam realmente? A investigação demonstrou que a extensão da exposição à violência eleva os padrões de atividade cerebral característico para pensamentos agressivos. Não é que somos incapazes de separar o fato de ficção, ou colocar uma notícia aterradora em sua devida perspectiva de um nível consciente, mas sim que nós somos afetados subliminarmente. Parece hoje quase impossível de se ter alguma fé em conceitos como a não-violência e compaixão. Somos alimentados incessantemente da desumanidade do homem para a humanidade.


Os meios de comunicação lutam por audiência e não filtram seu potencial de influência. Também nós temos a opção de não participar da cultura pop que glorifica a violência e o assassinato. É claro que não podemos visualizar o mundo através de lentes coloridas, mas temos de perceber que a imagem de violência constante em nossas vidas cotidianas pode ter profundas repercussões sobre nós e, sobretudo nos nossos filhos.

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