Elas são lindas, sensuais, femininas e de frágil não têm nada. São mulheres acima de qualquer suspeita, até que alguém resolva implicar com elas. Por trás de seus rostos angelicais há uma verdadeira fera. Praticantes de lutas e artes marciais, elas não perdem o charme nem quebram o salto se precisarem botar algum engraçadinho para correr. Mas não é por isso que elas lutam. A busca delas é por um corpo são numa cabeça sã e, se possível, com a energia e a espiritualidade em dia.
A especialista em comportamento canino Daniela Prado, 31 anos, é uma dessas mulheres. Ela fez kempô por dez anos, uma arte marcial baseada no movimento dos animais. 'Fiz o kempô indiano, mas existem várias formas dessa arte marcial. Não é somente uma técnica de defesa pessoal, mas também uma arte que permite que o corpo do praticante faça aquilo que a cabeça pensa. O grande segredo é usar a força do agressor contra ele mesmo', conta.
Há pessoas que não concordam com a prática de lutas por acharem que isso estimula a violência, mas no caso do kempô, o objetivo é outro. 'É para evitar briga. Sou a favor, se for feito com seriedade. Além disso, às vezes fazíamos treinamentos específicos para mulheres, com o objetivo de mostrar como reagir em caso de uma tentativa de estupro, como manusear uma arma de fogo. A grande vantagem é que fiquei mais confiante, me sinto mais segura com o meu próprio corpo, ando muito mais atenta nas ruas e aprendi a dominar o medo', afirma.
O krav-magá é uma arte marcial não muito difundida no Brasil, mas que faz sucesso no resto do mundo. Até os agentes do Mossad, o serviço secreto israelense, são peritos nela. Segundo o mestre Kobi, o pioneiro da arte no Brasil, o krav-magá é perfeito para as mulheres. 'É muito bom para as mulheres porque não é uma luta, mas uma técnica de defesa pessoal, que deixa a mulher muito mais confiante. Aliás, a filosofia básica dessa arte de origem israelense, segundo os preceitos de seu próprio criador, é 'estimular a vontade de se superar, não só fisicamente, mas em todos os aspectos do ser humano.
É uma arte eminentemente prática que, através do trabalho corporal, atinge a mente, o intelecto e a espiritualidade. Ao estimular a busca individual, uma das metas principais do O krav-magá é a conquista da autoconfiança', diz ele, acrescentando que, no caso das mulheres, as faz aprender que pequenos movimentos podem ter um resultado devastador.
Até o cinema já diagnosticou o aumento de mulheres interessadas em artes marciais. Quem viu o filme 'As Panteras' sabe disso. As três, além de belas, davam um verdadeiro show na hora da ação e, o mais divertido, sem sair do salto agulha e sem desgrudar do celular. No filme chinês 'O Tigre e o Dragão', o diretor Ang Lee mescla um Bruce Lee de saias com histórias açucaradas de amor. Ele garante que fez o filme com a intenção de homenagear as mulheres e, preocupado, em retratá-las bem, escolheu como protagonista a atriz Michelle Yeoh, miss Malásia em 1984, linda, corpo de bailarina e gestos graciosos.
A estudante de Nutrição Nina Brito, 19 anos, pratica capoeira há três e tirou da luta muito mais do que a possibilidade de defesa pessoal: conquistou ritmo, confiança e mais tempo ao lado do namorado. 'Ele me levou para assistir uma aula e o mestre me chamou para participar. Logo fiquei atraída pelo ritmo e pela música. O melhor de tudo é que a capoeira é uma ótima válvula de escape. Quando estou estressada, desconto nos sacos de chutar e me sinto bem melhor', afirma. Nina reuniu as colegas da roda para fundar o 'Damas de Ferro'. 'Nós treinamos muito juntas e a capoeira me ajudou bastante. Eu era muito tímida, e hoje isso melhorou muito', conclui.
A estudante Mariana Malta também se rendeu aos encantos da capoeira. 'Eu adoro fazer capoeira. Faz bem para o corpo porque mexe com tudo, e garante um excelente desempenho físico', diz. Com 16 anos e 1,65m de altura, ela esconde por trás de um rostinho angelical uma guerreira destemida. 'Eu sairia com facilidade de um homem que estivesse me ameaçando. Há golpes que, se aplicados em pontos estratégicos, podem matar. É claro que procuramos evitar os golpes fatais, mas já vi uma menina jogar numa roda e dar uma ‘ponteira’ (chute de frente) no baço de um homem e ele morrer. Mas foi um acidente. Isso mostra que esse lance de que mulher é fraquinha é frescura', garante.
situações de risco
Pois é, tem menina que gosta muito da filosofia, mas tem também quem aplica o conhecimento no mundo prático. A estudante de Direito Caroline Dantas, 21 anos, já teve que usar técnicas de Karatê, que pratica há três anos, para se livrar de dois chatos que a atormentavam em uma boate. 'Um cara tentou me agarrar e eu saí fora. Pouco tempo depois, ele apareceu com um amigo que me segurou para que o outro pudesse me beijar. Quando ele se aproximou, dei um chute nele, e o cara que me segurava me soltou', conta.
Apesar da agressão, Caroline, como a grande maioria das mulheres que praticam algum tipo de luta - e ao contrário de certos homens - não gosta de violência. 'Foi inevitável, e se acontecer de novo, vou bater de novo. Mas essa não é a filosofia do caratê. Lutar é importante para a mulher se defender e poder sair de situações de risco, por isso acho que todas deveriam praticar algum tipo de luta. Já pensou no que poderia ter acontecido comigo, caso eu não conseguisse me livrar dos caras?', questiona.
Como preconceito existe em todo lugar, as lutadoras também têm que encarar esse problema. A publicitária Aline Almeida, 25 anos, treina taekwon-do há sete anos: 'Eu treino muito com homens e a maioria deles é mais graduado do que eu, não tenho moleza por ser mulher, embora eu ouça comentários do tipo: ‘Ah, vou pegar mais leve com ela’. Com esses caras eu não treino. O grande problema é que os homens nunca vão admitir que podem apanhar de uma mulher', garante.
Embora ela nunca tenha se envolvido em brigas, tem a experiência dos treinos na academia. 'Já botei muitos homens com a cara no tatame', brinca. O professor dela, o mestre Rodney Dias, elogia a aluna e confirma. 'A Aline é uma excelente lutadora. Dedicada, esforçada, e não tem medo dos rapazes. Acho que ela bateria em metade dos alunos daqui, e o melhor de tudo é que ela treina sempre perfumada e de batom. Acho importante que as mulheres procurem fazer algum tipo de luta. Além de ser bom para o corpo e para a mente, elas podem se defender tanto dos ladrões, quanto desses ‘playboys’ que andam pela noite fazendo besteira', alerta.
Além de ajudar no condicionamento físico - perde-se, em média, 500 calorias em uma hora de treinamento -, as lutas ajudam a aliviar o estresse acumulado durante o dia. Depois de uma tarde de intenso trabalho, a solução para não chegar em casa e descontar as frustrações na família pode ser uma boa seqüência de socos numa aula. A atividade física provoca liberação de hormônios, causando uma sensação prazerosa ao fim do exercício. E uma aula de boxe, por exemplo, pode queimar tantas calorias quanto o spinning, já que há atividades como flexões, pular corda, exercícios abdominais e de soco. As lutas são de fato uma opção de ginástica frente às aulas tradicionais que contribuem para o emagrecimento.
É isso aí: mulher agora é chapa quente - e isso não tem nada a ver com fogão.
Fonte: Jornal O liberal









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